6 de mar. de 2009

FANTASPORTO CARAGO !!!

Porto 13h da tarde, não foi muito difícil encontrar o caminho depois de sair da gare do expresso até ao Rivoli, melhor ainda era sempre a descer. Havia tempo por isso entrei no recinto mas a bilheteira ainda estava encerrada, fiquei com um programa do festival e fui deixar as malas à pensão onde tinha ficado à 2 anos atrás, que é logo ali ao lado e custa 25€ a noite. Depois de pagar fui deixar a mochila no meu quarto, quando abri a porta vi que tinha calhado num quarto com duas camas, televisão e ar condicionado, depois disso fui entregar a chave no balcão a empregada escreveu num papel a data de entrada e o número de noites que eu tinha pago. Já na rua algumas portas ao lado vinha o cheiro de comida, não demorei muito tempo até descobrir de onde era. No espaço de 20 metros encontrei logo 3 ou 4 restaurante, casas de petiscos onde se come boa bifana, mas não tinha almoçado e a viagem tinha me deixado faminto. Decidi trocar as bifanas num pão, por um prato de tripas o que na altura me pareceu apropriado ao ambiente do festival. Depois de comer fui ver se as bilheteiras já tinham aberto, quando cheguei estava já uma fila formada e claro um gajo como eu pouco habituado a esperar para comprar bilhetes de cinema dirigi-me a um dos compartimentos para "pedir informações". Queria saber se tinha de comprar bilhetes individuais ou se havia a hipótese de comprar um passe para ver os filmes à minha escolha, a pessoa disse que por 30€ podia comprar um bilhete para usar quando quiser até ao final do festival e dava para ver até 10 filmes. Mas como eu só tinha tempo para ver 5 acabei por comprar os bilhetes para as sessões que intencionava ver nesse dia por esta ordem: 15:00 Choke; 17:00 Anyone There/Walled In; 21:00 Grace; 23:00 Hansel & Gretel; e 01:00 Nekromantik) o preço por bilhete era de 4€ igual para os dois auditórios. Depois de ter os bilhetes entrei no recinto onde tinham colocado expositores com material promocional do festival, ainda passei os olhos por alguns títulos, livros e dvd´s mas apesar de ter algumas coisas interessantes os preços não eram muito convidativos, ou pelo menos não eram muito diferentes dos praticados por outras lojas. Como estava quase na hora, começaram a abrir as portas de acesso á sala "grande auditório" como lhe chamam, mas que não é assim tão grande como se poderia esperar, ou pelo menos nada como eu imaginei quando lá entrei pela primeira vez. Não tenho a certeza de quantos lugares tem a sala mas a disposição é diferente, ou seja a entrada é feita por cima, e os últimos lugares localizam-se logo á entrada. Não foi preciso procurar muito até encontrar um sítio para me sentar. Enquanto as últimas pessoas procuravam um lugar, foi dado início á primeira sessão, com o habitual spot da Superbock que parece uma maldição de todas as salas de cinema onde quer que entre e que me seguiu até ao Porto.
Mantive-me imóvel na minha cadeira, perplexo com aquele espectáculo de mediocridade, a contabilizar os minutos de vida que aquela maldita bebida já me tinha feito perder. Eu nunca percebi porque é que escolhem sempre imagens de pessoas eufóricas e nunca pessoas à beira do colapso, são tudo os sintomas de ingerirem quantidades copiosas de cerveja. Porque é que não promovem antes lutas de bar com garrafas estilhaçadas, fakirs a mastigar vidro, pessoas a vomitarem na via pública, acidentes de viação ou mesmo cocktails molotov em manifestações patrocinados pela Super Bock?!?


Choke ou o título em português Asfixia, era o que se podia ler no poster colocado na entrada, e que apela ao bom gosto de qualquer um, a cabeça de um homem mergulhado num mar de pernas de mulher. Eu não sabia quase nada acerca do filme a não ser que tinha sido escrito pelo Chuck Palahniuk, mesmo autor do inspirador Fight Club. Este é um daqueles filmes que apesar de não ser propriamente uma comédia não pode ser levado demasiado a sério, a história gira em torno de Victor Mancini um viciado em sexo que frequenta sessões de terapia de grupo, sempre acompanhado de Denny o seu melhor amigo e masturbador compulsivo. Victor divide o seu tempo entre o seu emprego como figurante numa aldeia da América colonial, e a visitar a sua mãe que está numa casa de repouso e sofre de uma doença psíquica que a impede de reconhecer o seu próprio filho. Apesar da sua frustração Victor é um filho dedicado, que embora tenha vivido uma infância atribulada nunca deixa de visitar a mãe. È durante um desses encontros, que num dos seus delírios ela deixa escapar alguns segredos acerca do seu pai que nunca conheceu, e que o deixam intrigado. Com a ajuda de uma sensual doutora procura a verdade do seu passado contida num diário escrito em italiano. Victor tem como ocupações frequentar casas de strip e ir a restaurantes de luxo, e é aí que o seu verdadeiro talento se manifesta. Pronto acho que já disse o suficiente mas se tiverem oportunidade de ver não hesitem porque vale mesmo a pena.


"Contem cenas eventualmente chocantes" Mais que uma advertência era uma revelação.
Grace é o nome de uma bébé que nasce numa família que há muito tentava ter um filho, mas a notícia da gravidez não traz só felicidade. A relação da mãe da criança e sogra agrava-se quando esta decide optar por uma clínica de medicina "alternativa", em vez da maternidade convencional para ter o seu filho. Porém a gravidez complica-se quando a protagnista se envolve num acidente de viação que resulta na morte do marido, e apesar do risco e das escassas chances da criança ainda continuar viva, resolve mesmo assim ter o parto. O bébé sobrevive contra todas as probabilidades, mas coisas estranhas acontecem durante os primeiras semanas de vida e sozinha conta apenas com os seus instintos maternais para proteger o seu terrível segredo. O tema do filme pode ser delicado para algumas pessoas mas apesar de tudo não deixa de ser recomendado. Este filme foi mostrado no pequeno auditório que é minúsculo mas que ao mesmo tempo salienta o ambiente claustrofóbico que o filme tenta transparecer.


Nekromantik é o nome de um filme de origem Alemã que foi realizado em 1987 e que ainda hoje continua a ter status de filme de culto. Eu já tinha ouvido falar do filme antes de ir ao festival e apesar de conhecer alguns detalhes da história, nada me preparava para o que estava prestes a assistir. Este foi o último filme da noite e na sala apenas se encontravam pessoas que, ou têm a mania que são fortes e aguentam tudo, outras que nem sabiam o que estavam ali para ver, e os últimos resistentes como eu. Enquanto esperava no lobby para que abrissem as portas, chegou um homem louro e bastante alto que se aproximou da entrada com um livre trânsito da organização ao pescoço, esse homem era o próprio realizador que viria subir ao palco minutos após esse nosso breve encontro, para falar sobre o filme, e responder a perguntas do público . O filme celebra 22 anos de existência, a mesma idade que o realizador tinha quando fez o filme, a ideia de fazer o filme surgiu durante um período em que a censura na Alemanha ainda era razão para ser temida e observava de perto todos os passos da indústria, os filmes de terror como é claro não eram excepção. Eu até compreendo, porque afinal se os alemães quiserem ver terror a sério tudo o que têm de fazer é abrir os livros de História."Nessa altura a única forma de obter filmes do género era ir busca-los directamente à Holanda" explica o realizador, é então que o ainda jovem Jörg Buttgereit decide fazer o seu próprio filme, sem dinheiro, com meios ainda muito rudimentares e um cast e equipa de produção totalmente amadoras. Apesar das dificuldades o filme foi finalmente concluído e foram feitas 3 cópias em 8mm que correram vários países pela mão do próprio autor, uma vez que não existia distribuição para evitar a censura. Quando lhe perguntaram se o sangue usado nas filmagens era verdadeiro, o realizador respondeu que não, para isso usaram uma tinta colorante e para as cenas de gore tiveram de ir aos matadouros recolher restos de animais, apesar de todos os mortos serem mortos a sério... eu não tenho a certeza se percebi bem mas de súbito fez-se silêncio na sala e mais ninguém tinha perguntas para fazer. Depois de algumas palavras sobre o filme ainda houve tempo para falar de novos projectos, o mais recente está prestes a sair (também prevista a estreia em Portugal) e intitula-se "Monsterland" um documentário onde Jörg Buttgereit viaja pelo mundo para visitar os locais onde nasceram os seus monstros favoritos e entrevistar personalidades por detrás da sua origem como: John Carpenter; Joe Dante; Gregory Nicotero; Shinya Tsukamoto e H.R. Giger. Achei irónica a resposta do realizador a um jornalista que bêbedo na plateia e em inglês com pronúncia nortenha, lhe perguntou qual era a diferença entre os filmes de monstros americanos e os japoneses? Ao que ele respondeu que a diferença era que nos americanos perante a ameaça de um monstro pensavam: "Vamos matà-lo!!!" e no Japão as pessoas pensavam "Como é que vamos sobreviver a isto?!?".
Por fim o realizador despediu-se na esperança que as pessoas entendam o verdadeiro significado do filme para além de toda aquela confusão de tripas e sangue, e que era um prazer estar ali 22 anos depois para mostrar o seu trabalho desta vez em 35mm.
“grossly disturbing, offensive and should not be shown to minors” era a primeira frase projectada na tela e em inglês para ser compreendido por um público maior, eu não sei quantas pessoas em todo o mundo tiveram a oportunidade de ver o filme, mas de certeza que mesmo aquelas com idade legal para o fazer iriam concordar que ser maior de 18 anos não representa qualquer vantagem para quem assiste a um filme desta natureza. Resumindo(era uma piada), o filme acompanha a história de um rapaz que trabalha na recolha de cadáveres de pessoas e animais das estradas, assim como outros locais públicos. De regresso a casa depois de um longo dia de trabalho, retira dos bolsos mais um espécime para a sua colecção de orgãos e outros exemplares cuidadosamente conservados em frascos de furmol. A sua casa está decorada com ossos, esqueletos de animais, caveiras com os quais Robert Schmadtke não parece muito incomodado, eis que surge a sua namorada que também parece partilhar o seu fascínio pelo macabro. A empatia entre ambos é quase perfeita e entre os dois é difícil perceber quem assume o controle da relação. Tudo parece perfeito, quando um dia Rob decide trazer para casa um dos cadáveres que devia ter "despachado", mas a intenção de Robert não é a de acrescentar mais um artigo ao seu espólio pessoal, o seu verdadeiro propósito é surpreender a sua namorada, para quebrar a rotina. Não demora muito tempo até que as suas mentes doentias comecem a fabricar formas de usarem aquele corpo desprovido de vida para as suas fantasias mórbidas. As cenas de sexo são curiosamente bastante boas, perturbantes mas bem feitas (no meu ponto de vista) e demonstram alguma sensibilidade artística, afinal de contas estamos a falar de uma ménage à trois com um cadáver. Os actores conseguem criar uma atmosfera de cumplicidade e erotismo com o corpo que apesar de inanimado está longe de ser um acessório assumindo um papel bastante preponderante. Porém a relação detiora-se quando Robert perde o seu emprego e o respeito da sua namorada, que o abandona levando consigo o cadáver.
Robert torna-se um homem angustiado, um dia enquanto vagueia no seu carro pelas ruas repletas de marginais e prostitutas, pára o carro na berma e convence uma delas a entrar, procura então um local onde possa ter mais privacidade. O lugar mais próximo é o cemitério e uma campa serve de leito aos dois amantes, Rob dá início ao coito, que é abruptamente interrompido. Depois de algumas tentativas a mulher acostumada a estes imprevistos, decide brincar com a falta de colaboração do seu parceiro. Rob sente-se vulnerável e num ataque de fúria acaba por matar a mulher com as suas próprias mãos, o que mesmo assim não o demove de prosseguir, antes pelo contrário serve como uma espécie de viagra natural e rapidamente recupera o seu vigor. Esse acto que vai determinar o decorrer dos eventos seguintes até ao culminar apoteótico da sua história, num dos finais mais memoráveis alguma vez captados em celulóide.
Nekromantik consegue uma coisa que para mim é ainda mais impressionante do que cadáveres e entranhas ensanguentadas, que é o fazer pessoas rir às gargalhadas das situações mais bizarras. Mas por outro lado também tem algo de alarmante, que nos faz sentir mal connosco mesmos por estarmos a assistir aquilo, por estarmos a participar, é como presenciar um acidente na auto-estrada apesar das vítimas e do aparato toda a gente pára para ver o desastre na esperança de ver um cadáver. Uma das cenas mais marcantes pela sua veracidade e que levou algumas pessoas a abandonar a sala, é a de um coelho a ser morto e esfolado (isto é mesmo a sério), o filme não de certeza que não vai inspirar ninguém a tornar-se vegetariano depois disso, mas é provocante nesse aspecto na medida em que confronta as pessoas com os as suas fobias. Eu não sei como se deve abordar um filme destes porque apesar do seu conteúdo gráfico também tem momentos de humor, estou-me a lembrar de um dos sonhos do protagonista, a correr pelos prados onde encontra o amor da sua vida, andam de mãos dadas, saltam de alegria e depois brincam com uma cabeça como se fossem as pessoas mais felizes do mundo. Outra coisa curiosa é a escolha da banda sonora que apesar de tudo é bastante razoável, mas como tenho a certeza que ninguém vai ver o filme deixo-vos um "clip" de uma das músicas e depois de ouvirem tentem associar o som ás imagens que eu tentei descrever. Enfim foi mais ao menos assim que aconteceu, eu só falo aqui nos filmes que acho que devem ser mencionados mas os outros embora não fossem tão bons não desiludiram, e apesar de tudo bons ou maus todos receberam aplausos do público. Quanto aos aspectos negativos ou falhas lembro-me que um filme não tinha legendas e os restantes quase todos serem legendados em inglês, para além disso não apareceu mencionado no programa o título de uma curta que passou e estava bastante bem conseguida, de resto ainda faltou ter ido à tenda que foi montada no exterior.


Ah! Já agora se ficarem hospedados na pensão "Solar da Conga" a hora de saída é às 12:00 não se esqueçam, mas se por acaso adormecerem e vos disserem que têm que pagar mais 15€ pelo tempo, não se deixem intimidar e nunca dêem mais do que 5 pela inconveniência.

4 comments:

Unknown disse...

Eu ainda fiquei indeciso com a escolha do título, mas como já existe um filme chamado "Histórias para adormecer" ficou mesmo como está...

אין סוף disse...

tas de parabens ricardo curti bue especialmente a review ao Nekromantik o realizador e brilhante de uma argucidade fenomenal...agora quero ver o filme...XD...es uma merda podias ter falado comigo que tambem adoraria ter ido...mas pronto agora vou dormir que foi mais uma historia para adormecer...XD

Unknown disse...

Obrigado, fico contente só por alguém ter lido o post. Eu posso te emprestar o filme se quiseres, quanto a ir ao Fantas agora só para o ano, já que eles não fizeram a tour por Coimbra como estava previsto.

Mk1 disse...

"(... apesar de todos os mortos serem mortos a sério... )" assim sim! efeitos especiais para quê se podemos dar um "piqueno" toque realidade à coisa? Fizeram a tour por cá sim, acho que esteve um filme no dolce, já não me lembro qual é, mas não há problema porque se não estou em erro está nos "brevementes" ;)